✅ Doença Celíaca (DC)
É uma doença autoimune crônica que ocorre em pessoas com predisposição genética. Quando o corpo entra em contato com o glúten — proteína presente no trigo, centeio e cevada — o sistema imunológico reage atacando o próprio intestino delgado, como se o glúten fosse uma ameaça.
Esse ataque destrói estruturas chamadas vilosidades, responsáveis por absorver os nutrientes dos alimentos.
Com o tempo, isso pode causar deficiências nutricionais e até desnutrição, mesmo que a alimentação pareça adequada.
Os exames costumam mostrar alterações imunológicas e lesões intestinais, com anticorpos específicos (como anti-TG e anti-endomísio), e a biópsia do intestino delgado demonstra alterações características.
O tratamento exige retirar o glúten da alimentação de forma total e definitiva — mesmo pequenas quantidades podem causar danos.
⚠️ Intolerância ao Glúten Não Celíaca (IGNC)
É uma condição diferente, em que a pessoa sente sintomas desconfortáveis após consumir glúten, como inchaço, dor abdominal, gases ou cansaço, mas sem lesões no intestino nem resposta autoimune detectável como ocorre na Doença Celíaca.
Os exames são normais, e o diagnóstico é feito por exclusão, descartando doença celíaca e alergias.
Ainda não se sabe ao certo o que causa essa sensibilidade — pode ser uma reação leve do sistema imunológico, ou mesmo uma intolerância a outros componentes do trigo.
O tratamento geralmente envolve reduzir ou eliminar o glúten, mas o consumo ocasional costuma não causar prejuízos permanentes, ao contrário da doença celíaca.
🧬 Resumo – O Que Acontece no Corpo?
🔹 Na Doença Celíaca:
Glúten → Ativação do sistema imune → Ataque ao intestino → Destruição das vilosidades → Má absorção de nutrientes.
Algo curioso e que gera erros diagnósticos mesmo entre bons médicos: na Doença Celíaca os sintomas podem ser extremamente leves e inespecíficos ou extremamente intensos. Pode existir tanto desconforto abdominal leve, quanto sintomas gastrointestinais intensos e sintomas em outros órgãos e sistemas. Os exames laboratoriais não imunológicos, podem ser extremamente alterados ou mesmo não ter alterações. Em casos com poucos sintomas é comum os colegas nem ao menos pensarem no diagnóstico! Apesar de existirem pacientes pouco sintomáticos e com poucas alterações laboratoriais não imunológicas com biópsias de intestino delgado demonstrando extensas lesões das vilosidades intestinais.
Por exemplo: um Celíaco não necessariamente vai ter deficiência de B12 ou ferro na vigência do diagnóstico. Já outros, podem já ter osteoporose ou quadros de anemia gravíssima.
Porém, mesmo quando não há sintomas e alterações laboratoriais não imunológicas significativas, não significa que não podem ocorrer consequências graves sem o tratamento, como, por exemplo: linfoma de intestino delgado.
🔸 Na Intolerância ao Glúten Não Celíaca:
Glúten → Desconforto e sintomas gastrointestinais → Sem lesão ou inflamação detectável → Possível ligação com outros compostos do trigo.

🌍 Epidemiologia e Subdiagnóstico da Doença Celíaca
- Estima‑se que a prevalência global verdadeira baseada em exames de sangue seja de aproximadamente 1,4% da população, enquanto a prevalência confirmada por biópsia é de cerca de 0,7%
- Diversas fontes afirmam que a prevalência pode variar de 0,7% a até 2% conforme a região, sexo, idade e grupos de risco.
- Mas muitos casos não são identificados: acredita-se que entre 70% e 90% dos afetados permanecem sem diagnóstico — até quatro vezes mais dos que os casos oficialmente registrados.
- Estudos em países como Reino Unido e Noruega sugerem que cerca de 75% dos celíacos estão sem diagnóstico, mesmo em sistemas de saúde bem estruturados.
🧪 DIAGNÓSTICO
✅ Doença Celíaca:
- Sorologia (em dieta com glúten):
- Anticorpo anti-tTG IgA (sensibilidade >90%)
- IgA total (para excluir deficiência e resultados falso negativos)
- Se IgA deficiente → dosar anti-DGP IgG ou anti-tTG IgG
- Biópsia duodenal (padrão-ouro):
- Classificação de Marsh: atrofia vilositária, infiltração linfocítica e hiperplasia criptal
- HLA-DQ2/DQ8:
- Negativo exclui a doença com quase 100% de certeza
Diretriz: ESPGHAN 2020; ACG Guidelines 2023
⚠️ IGNC:
- Diagnóstico exclusivamente clínico
- Excluir: Doença Celíaca e Alergia ao Trigo
- Protocolo proposto pelas Sociedades de Especialidade:
- Dieta com glúten → surgimento de sintomas
- Dieta sem glúten → melhora significativa
- Reintrodução → recidiva dos sintomas
🤒 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Tipo | Doença Celíaca | IGNC |
---|---|---|
Sintomas gastrointestinais | Diarreia crônica, dor abdominal, distensão, perda de peso *Mas, pode também ter apenas sintomas leves. | Dor abdominal, distensão, gases, fadiga |
Extraintestinais | Anemia, osteopenia, infertilidade, dermatite herpetiforme, estomatite *Mas, pode também ter apenas alterações leves. | Fadiga, cefaleia, dores musculares |
Oncológicos | ↑ risco de linfoma T intestinal, adenocarcinoma | Não associado a câncer |
Autoimunes associadas | DM tipo 1, tireoidite de Hashimoto, hepatite autoimune | Nenhuma associação comprovada |
🧪 CONDIÇÕES ASSOCIADAS À Doença Celíaca
- Diabetes tipo 1 (8–10%)
- Tireoidite de Hashimoto
- Síndrome de Down
- Síndrome de Turner
- Déficit de IgA (↑ risco de falso negativo na sorologia)
🥦 TRATAMENTO
✅ Doença Celíaca
- Dieta isenta de glúten: elimina trigo, centeio, cevada e derivados
- Evitar contaminação cruzada (mesma frigideira, utensílios, etc.)
- Reposição de deficiências nutricionais (ferro, B12, vitamina D, zinco)
- Monitoramento: sorologia periódica e sintomas
⚠️ IGNC
- Dieta com redução de glúten, preferencialmente com monitoração nutricional
- Muitas vezes, melhora também com redução de FODMAPs
⚠️ RISCOS DA DIETA SEM GLÚTEN SEM ORIENTAÇÕES
- Atrapalhar o diagnóstico correto de Doença Celíaca por favorecer exames falso negativos e consequentemente expondo celíacos a um tratamento inadequado e desenvolvimento de consequências graves.
🔍 CONTROVÉRSIAS ATUAIS
- A moda do “glúten faz mal” leva a subdiagnóstico de outras causas (SII, disbiose)
- Intolerância ao Glúten Não Celíaca pode incluir múltiplos mecanismos, incluindo sensibilidade a ATI (inibidores de tripsina do trigo) e fermentação de FODMAPs
- Nem todo paciente que se sente melhor sem glúten é necessariamente “intolerante”
Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica individualizada com seu médico de confiança.