A DPOC é uma doença respiratória crônica, progressiva e inflamatória, caracterizada pela limitação persistente ao fluxo aéreo, associada à exposição prolongada a partículas ou gases nocivos — especialmente o tabaco.
📌 DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
Segundo o relatório GOLD 2024 (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease), a DPOC é definida como:
“Uma condição respiratória comum e evitável, caracterizada por sintomas respiratórios crônicos (como dispneia, tosse e expectoração) e obstrução persistente ao fluxo aéreo, geralmente associada à inflamação crônica das vias aéreas em resposta à inalação de partículas nocivas.”
- A DPOC é a 3ª causa de morte no mundo (WHO, 2023), com 3,23 milhões de mortes por ano.
- Estima-se que 80% dos casos estejam subdiagnosticados.
- Cerca de 10% da população acima de 40 anos pode ter DPOC, mesmo sem diagnóstico (Lopez-Campos JL et al., Lancet Respir Med, 2016).
⚠️ FATORES DE RISCO
- Tabagismo ativo (responsável por 85–90% dos casos)
- Tabagismo passivo
- Fogão a lenha dentro de casa
- Exposição ocupacional (poeiras, sílica, carvão, biomassa)
- Infecções respiratórias na infância
- Poluição do ar
- Genética: deficiência de alfa-1 antitripsina (AATD), especialmente em pessoas <45 anos com enfisema.
🧬 FISIOPATOLOGIA
A DPOC é resultado de uma resposta inflamatória anormal dos pulmões:
- Infiltrado de neutrófilos, macrófagos e linfócitos CD8+
- Destruição do parênquima pulmonar → Enfisema
- Hiperplasia das glândulas mucosas → bronquite crônica
- Perda da recoaptação elástica dos alvéolos
- Aprisionamento aéreo e hiperinsuflação dinâmica
- Alterações na troca gasosa, causando hipoxemia e hipercapnia em estágios avançados.
🔍 DIAGNÓSTICO
1. História Clínica:
- Tosse crônica, produção de escarro, dispneia progressiva.
- Fatores de risco (tabagismo, ocupacional).
2. Espirometria:
- VEF1/CVF < 0,70 pós-broncodilatador confirma obstrução persistente (GOLD 2024).
- VEF1 usado para classificação da gravidade:
- GOLD 1: VEF1 ≥ 80%
- GOLD 2: 50% ≤ VEF1 < 80%
- GOLD 3: 30% ≤ VEF1 < 50%
- GOLD 4: VEF1 < 30%
3. Avaliação de sintomas e exacerbações:
- Questionários: mMRC (dispneia) e CAT (impacto geral).
- Avaliação de número e gravidade de exacerbações no último ano.
4. Exames complementares:
- Rx de tórax (hiperinsuflação, achatamento de diafragma)
- TC de tórax (enfisema, bronquiectasias)
- Gasometria arterial (estágios avançados)
- Dosagem de alfa-1 antitripsina (em pacientes jovens, não fumantes, ou com história familiar)
🧭 CLASSIFICAÇÃO E GRUPOS GOLD 2024
A nova classificação ABCD foi simplificada para A, B, E:
- Grupo A: poucos sintomas, baixo risco de exacerbação
- Grupo B: sintomas importantes, baixo risco de exacerbação
- Grupo E: alto risco de exacerbação (≥2 leves ou ≥1 grave/hospitalização)
💊 TRATAMENTO
1. Medidas Gerais
- Parar de fumar (intervenção com maior impacto na sobrevida!)
- Vacinação: influenza, pneumocócica (23V e 13V), COVID-19, coqueluche
- Educação em saúde
- Reabilitação pulmonar (exercício supervisionado)
2. Terapia Farmacológica
Tipo de Medicação | Exemplo | Indicação |
---|---|---|
Broncodilatadores de longa ação (LABA/LAMA) | Tiotrópio, salmeterol, formoterol | Primeira linha |
Corticóide inalatório (ICS) | Budesonida, fluticasona | Associado a exacerbações frequentes e eosinofilia ≥300 |
Terapia tripla (LABA + LAMA + ICS) | Benvanter®, Trelegy® | Pacientes com sintomas graves e ≥2 exacerbações |
Roflumilaste | Inibidor da PDE4 | Casos refratários com bronquite crônica |
Antibióticos contínuos (azitromicina) | Off-label | Exacerbações muito frequentes |
⚠️ Corticóide oral NÃO é indicado como manutenção! Apenas em exacerbações agudas.
🚨 EXACERBAÇÕES
- Definição: piora súbita dos sintomas que requer mudança na terapia habitual.
- Principais causas: infecções virais ou bacterianas, poluição, falha na adesão.
- Tratamento:
- Corticoide oral por 5–7 dias (prednisona 40mg/dia)
- Antibióticos se expectoração purulenta (amoxicilina-clavulanato, macrolídeos)
- Broncodilatadores de resgate (SABA/SAMA)
- Oxigenoterapia se SatO2 < 88%
- Ventilação não invasiva se hipercapnia com acidose
💡 OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR
Indicação se:
- PaO2 ≤ 55 mmHg OU
- SatO2 ≤ 88% em repouso persistente
Melhora sobrevida se usada ≥15 horas por dia (NOTT Trial, 1980).
📊 PROGNÓSTICO
- Fatores de pior prognóstico:
- Baixo VEF1
- Exacerbações frequentes
- Comorbidades: IC, caquexia, depressão, osteoporose
- Hiperinsuflação residual
- DPOC com bronquiectasias ou sobreposição com asma
Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica individualizada com seu médico de confiança!