A sensação de dificuldade para respirar, ou sensação de falta de ar — tecnicamente chamada de dispneia — é um dos sintomas mais inespecíficos e, ao mesmo tempo, mais alarmantes da prática médica.
Muita gente, inclusive alguns médicos pouco detalhistas, associam “de imediato” essa sensação diretamente à ansiedade, o que pode até ser verdade em alguns casos. Mas essa generalização é perigosa.
Na realidade, a dispneia pode ser o primeiro sinal de doenças pulmonares, cardíacas, infecciosas, digestivas ou neurológicas. Algumas dessas doenças, se não identificadas e tratadas precocemente, podem causar sequelas permanentes ou até levar à morte.

📌 1. “É só ansiedade?” Nem sempre.
Sim, é verdade: ansiedade e síndrome do pânico podem causar sensação de falta de ar ou aumento de frequência respiratória, aperto no peito, tremores e sensação de sufocamento. Mas atribuir toda falta de ar à ansiedade é um erro clínico grave. Veja algumas causas orgânicas importantes que também provocam dispneia:
🔸 Asma
Doença inflamatória crônica das vias aéreas. Ocorre uma maior “sensibilidade” dos brônquios. Imagine que os brônquios (os tubos de ar) sejam ruas. Na asma, essas ruas ficam: com as paredes inflamadas, causando redução da passagem do ar, dificuldade para respirar, chiado, tosse e sensação de aperto torácico, especialmente à noite ou com esforço. Crises graves podem evoluir rapidamente e levar à morte.
🔸 DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
Mais comum em fumantes, ex-fumantes, pessoas que usam fogão à lenha em casa ou trabalham com “poeira”. Existe uma dificuldade a passagem do ar que é progressiva e irreversível, resultando em tosse crônica, catarro, dificuldade para respirar e cansaço. Se ignorada, pode levar a morte.
🔸 Pneumonias bacterianas
Infecções no pulmão que geram sintomas que incluem febre, tosse com secreção, “dor no peito, geralmente em pontada” e dificuldade para respirar. Se ignorada, pode levar a morte.
🔸 Tuberculose pulmonar
Doença infecciosa crônica, mais comum em “pessoas com imunidade baixa” (exemplo: diabéticos e pessoas com HIV) ou em contextos de vulnerabilidade social (exemplo: pessoas em situação de rua). Causa tosse persistente (pode ser seca ou produtiva), emagrecimento, febre vespertina, suor noturno, dificuldade para respirar e cansaço progressivo. Se ignorada, pode levar a morte.
🔸 Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)
O refluxo de ácido gástrico pode causar microaspiração noturna e irritação das vias aéreas.
Pode gerar tosse crônica, sensação de dificuldade para respirar, pigarro, chiado e sensação de sufocamento após comer ou ao deitar.
🔸 Disfagia neurológica e alterações estruturais do esôfago
Pacientes com doenças neurológicas, câncer de esôfago, estenoses ou corpo estranho podem apresentar aspiração silenciosa. Isso pode levar a infecções pulmonares recorrentes, falta de ar crônica, sensação de dificuldade para respirar.
🔸 Doenças cardíacas
Insuficiência cardíaca, arritmias ou valvopatias podem causar sensação de dificuldade para respirar principalmente ao esforço, ortopneia (falta de ar ao deitar) e edema. Se ignoradas, podem levar a morte.
🔬 2. Sinais de alerta que indicam investigação médica imediata:
Se você ou algum conhecido seu apresentarem qualquer um desses sinais, não ignore, procure ou oriente procurar um médico sempre que tiver dificuldade para respirar, principalmente se acompanhada de:
✅Tosse persistente (por mais de 2 semanas)
✅ “Secreção”, “catarro”
✅ Chiado no peito ou sensação de “apito”/”miado de gato”/”barulho” ao respirar
✅ Falta de ar ao subir escadas, falar ou caminhar “lentamente“
✅ Cansaço desproporcional
✅ Sensação de sufocamento ao deitar ou após as refeições
✅ Tosse após alimentação
✅ Febre diária, suor noturno, emagrecimento involuntário
✅ Histórico de exposição a tuberculose ou contato domiciliar com casos
💣 3. Ignorar pode custar caro
A dificuldade para respirar, mesmo que leve, (dispneia) não é um sintoma que pode ser banalizado.
Veja por quê:
🔻 DPOC é progressiva: quanto mais tempo sem tratamento, maior a perda funcional dos pulmões. Além de morte.
🔻 Tuberculose não tratada pode levar à destruição pulmonar e transmissão para outras pessoas, além de morte.
🔻 Aspiração por disfagia pode causar pneumonias graves, especialmente em idosos.
🔻 Asma mal controlada pode levar à morte súbita em crises graves, e consequentemente morte.
🔻 Refluxo crônico pode desencadear asma refratária ou esofagite erosiva.
🔻Tromboembolismo Pulmonar, pode surgir inicialmente com a sensação súbita de dificuldade para respirar.
🔻 Corpos estranhos em crianças ou idosos com demência podem passar despercebidos e gerar infecção respiratória.
Em todos esses casos, o tempo de diagnóstico influencia diretamente o desfecho clínico.
🧪 4. Quais exames podem ser necessários?
O médico vai solicitar apenas os necessários e de acordo com a suspeita clínica.
Apenas alguns exemplos são:
🫁 Espirometria: avalia a função pulmonar (obrigatória para DPOC e asma)
📷 Radiografia ou tomografia de tórax: investigação de infiltrados, massas, hiperinsuflação ou sinais de aspiração
💉 Gasometria arterial: mede oxigenação e equilíbrio ácido-básico
🔬 Teste rápido, baciloscopia, cultura, etc… para tuberculose
📹 Endoscopia digestiva alta
🫀 Ecocardiograma e BNP: para descartar insuficiência cardíaca como causa da dispneia
💡 5. E o tratamento?
Depende totalmente da causa, podendo variar drasticamente de uma doença para outra… ficar “tomando xarope” é comprar uma passagem para a morte com “gostinho de morango, cereja, etc”… por isso a investigação é essencial.
“A falta de ar pode ser um sussurro do corpo pedindo socorro. Ouça antes que ele grite pela última vez.”
Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica individualizada com seu médico de confiança!