A Síndrome Metabólica (SM) é uma situação extremamente comum subdiagnosticada e subvalorizada, sendo uma condição clínica multifatorial (várias causas), caracterizada pela presença concomitante de fatores de risco cardiometabólicos que aumentam de forma sinérgica o risco de doença cardiovascular aterosclerótica (DCV), diabetes tipo 2, esteatose hepática e mortalidade global. Ou seja, se você tem, você tem mais chance de ter doenças graves, ficar hospitalizado e morrer.


🧾 DEFINIÇÃO E CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

O médico deverá avaliar durante o exame físico + avaliação dos exames laboratoriais se você preenche os critérios, mas isso frequentemente pode ser esquecido durante consultas mais rápidas e sem objetivo preventivo. Os critérios mais utilizados são os da NCEP-ATP III (2005) e da IDF (International Diabetes Federation, 2006):

Critérios NCEP ATP III (2005) – Diagnóstico se ≥ 3 dos 5:

CritérioValor de Corte
Circunferência abdominal>102 cm (homens), >88 cm (mulheres)
Triglicerídeos≥ 150 mg/dL ou uso de medicação
HDL-c< 40 mg/dL (homens) ou < 50 mg/dL (mulheres)
Pressão arterial≥ 130/85 mmHg ou uso de anti-hipertensivo
Glicemia de jejum≥ 100 mg/dL ou uso de antidiabético oral/insulina

Critério IDF (2006):

  • Obesidade central é obrigatória (valores ajustados por etnia)
    • 2 outros critérios (HDL, triglicerídeos, PA, glicemia)

📊 EPIDEMIOLOGIA

  • Dados do NHANES (2020) indicam que mais de 1 em cada 3 adultos (cerca de 36–38%) têm critérios de Síndrome Metabólica. Em adultos ≥60 anos, essa taxa sobe para mais de 50%.
  • No Brasil, a prevalência varia entre 25% e 40%, dependendo do critério adotado (Vigitel, 2023; PNS/IBGE, 2020)
  • Está associada a um risco 2–3 vezes maior de eventos cardiovasculares e 5 vezes maior de diabetes tipo 2
    (Ford ES et al., Diabetes Care, 2005)

🧪 FISIOPATOLOGIA: A RAIZ É A RESISTÊNCIA INSULÍNICA

A resistência à insulina (RI) é o mecanismo central da SM:

  • Tecido adiposo visceral produz citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-α) → inflamação crônica de baixo grau
  • RI no fígado → aumento da produção hepática de glicose → hiperglicemia
  • RI no tecido muscular → menor captação de glicose
  • Lipólise exacerbada → aumento de ácidos graxos livres
  • Estresse oxidativo + disfunção endotelial → hipertensão arterial

Fonte: Reaven GM. Banting Lecture 1988. Role of insulin resistance in human disease.


🫀 COMORBIDADES ASSOCIADAS

  • Doença cardiovascular (infarto, AVC, DAC)
  • Diabetes tipo 2
  • Esteatose hepática não alcoólica (NASH)
  • Doença renal crônica
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
  • Disfunções cognitivas e risco aumentado de demência

Mottillo S et al. J Am Coll Cardiol. 2010;56(14):1113–1132


🧠 IMPACTO EM MORTALIDADE

Estudos mostram que pessoas com Síndrome Metabólica têm muito mais chances de desenvolver doenças graves e até morrer por causa delas. Mas o que isso significa na prática? Veja os números explicados de forma simples:

🔴 Risco de morte por qualquer causa
📊 Risco 27% maior do que em pessoas sem a síndrome.
👉 Em um grupo de 100 pessoas sem a síndrome, se 10 vierem a falecer, em um grupo com Síndrome Metabólica, seriam cerca de 13 mortes no mesmo período.

❤️ Risco de morrer por doenças cardiovasculares (como infarto ou AVC)
📊 Risco 2 vezes maior.
👉 Isso significa que se uma pessoa sem a síndrome tem um risco de 10%, uma pessoa com a síndrome pode ter 20% ou mais de chance de sofrer ou morrer por um problema no coração ou na circulação.

💥 Risco de infarto do miocárdio (ataque cardíaco)
📊 Risco 99% maior (quase o dobro).
👉 Ou seja, se entre pessoas saudáveis 10 em cada 100 sofrem infarto, entre pessoas com Síndrome Metabólica, esse número pode chegar a 20 em cada 100.

✅ Esses números mostram que a Síndrome Metabólica não é algo leve ou apenas “gordurinha abdominal”. É um conjunto de fatores de risco que, juntos, aceleram o desenvolvimento de doenças graves — muitas vezes de forma silenciosa.


⚕ TRATAMENTO: FOCO NA RAIZ METABÓLICA

🔹 Intervenção Não Farmacológica Individualizada e com plano estruturado para cada caso (base de tudo):

  • Perda de peso de 5–15% → já reduz drasticamente resistência insulínica
  • Exercício físico regular (aeróbico + resistido)
  • Dieta com baixo índice glicêmico e visando melhora da composição corporal.
  • Evitar bebidas açucaradas, ultraprocessados, gordura trans
  • Sono adequado e manejo do estresse

🔹 Tratamento Farmacológico quando necessário e individualizado:

CondiçãoTratamento
Hiperglicemia/DM2Metformina, SGLT2i, GLP-1 RA (↓peso e CV)
DislipidemiaEstatinas (rosuvastatina, atorvastatina)
HipertensãoIECA, BRA, diuréticos, bloqueadores de canal de cálcio
ObesidadeGLP-1 RA (semaglutida, liraglutida), orlistate
Esteatose hepáticaPioglitazona, vitamina E (casos selecionados)

Fontes: ADA Standards of Care 2024; ESC/EAS Guidelines 2023; NICE Obesity Guidelines 2022


🔒 PREVENÇÃO

  • Síndrome Metabólica é uma condição evitável, mas também tratável quando presente.
  • Intervenção e tratamento precoce reduz mortalidade e graves consequências.

Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica individualizada com seu médico de confiança!

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Dr. Guilherme Afonso

Olá, sou o Dr. Guilherme Afonso, médico há mais de 7 anos, com título de especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Médica Brasileira. Ao longo da minha trajetória, dediquei-me a proporcionar um atendimento humanizado e integral, com foco em prevenção e tratamento das mais diversas condições de saúde. Além da medicina, estou me graduando em Nutrição, o que amplia minha visão sobre cuidados com a saúde e bem-estar dos meus pacientes.

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Dr. Guilherme Afonso

Olá, sou o Dr. Guilherme Afonso, médico há mais de 7 anos, com título de especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Médica Brasileira. Ao longo da minha trajetória, dediquei-me a proporcionar um atendimento humanizado e integral, com foco em prevenção e tratamento das mais diversas condições de saúde. Além da medicina, estou me graduando em Nutrição, o que amplia minha visão sobre cuidados com a saúde e bem-estar dos meus pacientes.