Imagine acordar e, ao se levantar da cama, tudo ao seu redor começa a rodar como se você estivesse em um carrossel desgovernado. A visão embaralha, o chão parece instável, e até manter-se de pé vira um desafio. Essa sensação, que muitos descrevem como “tontura” ou “labirintite”, pode ser, na verdade, um episódio de vertigem — e entender isso pode ser o primeiro passo para buscar o tratamento correto e evitar riscos sérios à saúde.
🌪 O que é, afinal, vertigem?
Vertigem é uma forma específica de tontura. Diferente daquela sensação vaga de desequilíbrio ou “fraqueza” que sentimos, por exemplo, após um jejum prolongado, a vertigem é a ilusão de movimento rotacional — como se a pessoa ou o ambiente estivessem girando, mesmo estando parados.
Essa sensação geralmente está relacionada a distúrbios do sistema vestibular, que inclui o ouvido interno e partes do cérebro responsáveis pelo nosso equilíbrio. Mas nem sempre é “só do ouvido”: existem causas mais graves que envolvem o cérebro — e saber diferenciar é essencial.
🧠 Vertigem Periférica x Vertigem Central
Por que saber a diferença pode salvar vidas?
Quando falamos em vertigem, estamos falando de um sintoma — e não de uma doença em si. E esse sintoma pode ter duas causas muito diferentes: uma mais comum e geralmente benigna (periférica) e outra mais rara, mas potencialmente grave e até fatal (central). Entender essa diferença muda tudo: desde o diagnóstico até a urgência de procurar um pronto-socorro.
✅ Vertigem Periférica
🦻 A vertigem que vem do ouvido
Acontece quando há alterações no labirinto (estrutura do ouvido interno que controla o equilíbrio) ou no nervo vestibular (que leva as informações até o cérebro).
🔍 Características típicas:
- Início súbito, muitas vezes ao virar a cabeça, levantar ou deitar
- Sensação de rotação intensa (parece que o quarto gira)
- Piora com movimentos cefálicos e melhora com repouso
- Pode vir com náuseas, vômitos, sudorese fria
- Audição preservada ou associada a sintomas auditivos (zumbido, sensação de ouvido tampado)
- Ausência de sintomas neurológicos (formigamentos, visão dupla, desequilíbrio grave)
📌 O paciente geralmente consegue identificar o gatilho, como virar na cama, olhar para cima ou levantar rápido.
🔬 Exemplos mais comuns:
- VPPB (Vertigem Posicional Paroxística Benigna): causada pelo deslocamento de cristais no labirinto. Costuma durar segundos a minutos e é desencadeada por movimentos específicos da cabeça.
- Neuronite vestibular: inflamação do nervo vestibular, normalmente por infecção viral. Pode causar vertigem intensa por dias, mas sem sintomas auditivos.
- Doença de Ménière: crises de vertigem que duram horas, com perda auditiva flutuante, zumbido e sensação de pressão no ouvido. Está ligada ao acúmulo de líquido no labirinto.
🚨 Vertigem Central
🧠 A vertigem que vem do cérebro – e exige urgência
Menos comum, porém muito mais grave, a vertigem central vem de lesões no tronco encefálico ou no cerebelo — áreas profundas do cérebro que coordenam equilíbrio e movimento fino. Pode ser causada por AVC (derrame), tumores, esclerose múltipla, entre outros.
🔎 Sinais de alerta para vertigem central:
- Não melhora ao deitar e não se relaciona com posição da cabeça
- Desequilíbrio intenso (o paciente mal consegue ficar em pé)
- Formigamento, fraqueza, dormência em rosto, braços ou pernas
- Visão dupla, visão embaçada, ou perda visual
- Dificuldade para falar, engolir ou entender palavras
- Nistagmo vertical ou direcionalmente instável (movimento involuntário dos olhos)
- Dor de cabeça súbita, forte e diferente do habitual
⚠️ Vertigem central é uma emergência médica.
Se a tontura aparecer de forma abrupta com algum desses sinais neurológicos, não espere passar. Vá imediatamente a um hospital com suporte neurológico. Pode ser um AVC.
🧪 Como o médico diferencia?
Na prática clínica, usamos sinais e testes específicos para suspeitar da origem da vertigem. Um dos mais confiáveis é o HINTS exam — um conjunto de manobras feitas à beira do leito que ajuda a diferenciar causas centrais e periféricas com alta acurácia, inclusive mais que a tomografia em estágios iniciais do AVC.
📍 Resumo comparativo:
Característica | Vertigem Periférica | Vertigem Central |
---|---|---|
Início | Súbito, muitas vezes posicional | Súbito ou gradual, não relacionado à posição |
Intensidade | Forte, mas melhora com repouso | Pode ser leve, mas associada a outros déficits |
Náusea/Vômito | Muito comuns | Menos comuns |
Zumbido/Perda auditiva | Pode haver | Geralmente ausente |
Desequilíbrio | Leve a moderado | Intenso – não consegue ficar em pé |
Sinais neurológicos | Ausentes | Presentes (formigamento, fala arrastada, etc.) |
Nistagmo | Horizontal/fatigável | Vertical ou multidirecional |
Urgência | Normalmente ambulatorial | Emergência médica |
👩⚕️ Casos clínicos (explicados de forma simples):
🟢 Caso 1 – Vertigem periférica (VPPB):
Dona Teresa, 64 anos, acordou certa manhã e, ao virar na cama, teve uma tontura forte — sentia que tudo ao redor girava como um carrossel. A tontura durou cerca de 30 segundos e melhorou um significativamente quando ela ficou parada na cama quieta e na mesma posição. Estava com leve náusea, mas não tinha dor de cabeça, visão dupla, formigamento ou dificuldade para falar.
Assustada, procurou o médico. Após uma avaliação com testes simples no consultório (como a manobra de Dix-Hallpike), foi diagnosticada com Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB). Com uma manobra de reposição feita ali mesmo (manobra de Epley), recebeu orientações e, em poucos dias, estava completamente recuperada — sem precisar de medicação.
🧠 Mensagem-chave: vertigens periféricas costumam ter início súbito, são desencadeadas por movimentos específicos da cabeça e melhoram com repouso. São desconfortáveis, mas geralmente benignas.
🔴 Caso 2 – Vertigem central (AVC):
No mesmo dia, o vizinho de Dona Teresa, o Sr. Carlos, 50 anos, sentiu uma tontura súbita enquanto tomava chimarrão e fumava na varanda de casa. Mas, diferente de Dona Teresa, ele não conseguia manter o equilíbrio nem mesmo sentado. Ao tentar falar, percebeu que as palavras saíam enroladas, como se sua boca não obedecesse. Também notou uma fraqueza estranha no lado esquerdo do corpo.
Assustado, foi levado ao pronto-socorro. A primeira tomografia estava normal, mas os médicos suspeitaram de algo mais grave e uma ressonância magnética confirmou um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A vertigem havia sido o primeiro sinal.
Felizmente, o atendimento foi rápido. Carlos recebeu os cuidados corretos a tempo e, após fisioterapia e acompanhamento, teve uma recuperação quase completa.
🚨 Mensagem-chave:
Quando a tontura surge de repente, sem motivo claro e vem acompanhada de alterações na fala, fraqueza, visão dupla ou dificuldade para andar, pode ser um AVC em andamento. Não espere passar. Vá direto ao hospital. Cada minuto pode salvar seu cérebro — e sua vida.

🧪 Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da vertigem começa por uma anamnese bem-feita: o médico vai perguntar como é a tontura, quando começou, o que piora e se há outros sintomas. Em seguida, faz testes físicos e neurológicos.
Se houver suspeita de causas centrais, podem ser necessários:
- Tomografia computadorizada de crânio
- Avaliação neurológica especializada
- Ressonância magnética do crânio
- Testes laboratoriais complementares
💊 E o tratamento?
Depende da causa. Veja alguns exemplos:
- VPPB → Manobras de reposição canalicular (ex: manobra de Epley), fisioterapia vestibular.
- Neuronite vestibular → Repouso inicial, medicamentos sintomáticos e fisioterapia.
- Doença de Ménière → Dieta com pouco sal, medicamentos específicos, controle da pressão do ouvido interno.
- Vertigem de origem central → Tratamento da causa (ex: AVC = emergência hospitalar).
❌ O uso de remédios como “Dramin” ou “Vertix” por conta própria pode mascarar sintomas importantes e atrasar o diagnóstico correto.
🧠 Por que não devemos ignorar a vertigem?
Além do desconforto, a vertigem aumenta o risco de quedas, especialmente em idosos — o que pode levar a fraturas, internações e perda de autonomia.
Mais grave ainda: pode ser o primeiro sintoma de um problema neurológico sério.
Portanto, se você ou alguém próximo sente que “tudo está girando”, não ignore. Avaliar com um médico é essencial.
✅ Recapitulando
- Vertigem é mais do que tontura — é a sensação real de que tudo gira.
- As causas podem ser periféricas (menos graves) ou centrais (mais graves).
- Alguns sinais devem acender um alerta para AVC ou outras doenças neurológicas.
- O tratamento depende da causa — e o diagnóstico correto é o primeiro passo.
- Nunca se automedique. E nunca diga: “Ah, deve ser só tontura…”
🔔 Se você conhece alguém que vive reclamando de tontura, compartilhe este texto. Pode ser mais sério do que parece.
🩺 E lembre-se: consulte sempre um médico. Um exame clínico atento pode mudar o rumo da sua vida.