Nos últimos anos, tornou-se muito comum que pacientes realizem ultrassonografias da tireoide por conta própria ou em check-ups de rotina médica — muitas vezes sem indicação clínica sólida. Como médico, vejo com frequência pessoas angustiadas após descobrirem um “nódulo” na tireoide que, na maioria das vezes, é benigno e não exige nenhuma conduta.
Por isso, é essencial entender: quando o ultrassom da tireoide é realmente indicado? E quando ele pode, na prática, gerar mais confusão do que benefício?

🧬 Para que serve o ultrassom da tireoide?
O USG de tireoide é um exame não invasivo, indolor e sem radiação, que permite avaliar:
- O volume e a estrutura da glândula;
- Presença de nódulos, cistos ou áreas inflamatórias;
- Características ecográficas sugestivas de malignidade;
- Padrões que indicam necessidade de biópsia (PAAF) ou apenas acompanhamento.
✅ Quando o Ultrassom de Tireoide Está Realmente Indicado?
Segundo as diretrizes da American Thyroid Association (ATA) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o ultrassom da tireoide deve ser solicitado com critério clínico, especialmente nas seguintes situações:
🔹 1. Aparecimento de um caroço no pescoço
Se você ou seu médico perceberem uma massa na parte da frente do pescoço — ou se um lado parecer mais inchado que o outro —, o ultrassom é essencial para avaliar melhor essa alteração.
🔹 2. Presença de “ínguas” ou nódulos aumentados no pescoço
Quando há caroços aumentados na lateral do pescoço, próximos ao músculo que vai da orelha até a clavícula (esternocleidomastoideo), especialmente se forem duros, pouco móveis ou “fixos”, o ultrassom ajuda a investigar se são linfonodos reativos, inflamatórios ou suspeitos.
🔹 3. Alterações em exames de sangue da tireoide
- TSH muito baixo, com suspeita de nódulo “quente” ou “frio”;
- Hipotireoidismo persistente, associado ao aumento da glândula;
- Anticorpos positivos (anti-TPO ou anti-TG), sugerindo inflamação crônica da tireoide (ex: Hashimoto).
🔹 4. Histórico de alto risco para câncer de tireoide
- Exposição prévia à radioterapia na cabeça ou pescoço, especialmente na infância;
- Histórico familiar de carcinoma medular de tireoide ou síndromes genéticas como MEN tipo 2;
- Exposição significativa à radiação ionizante.
🔹 5. Acompanhamento de nódulos já detectados anteriormente
→ O ultrassom pode ser repetido de forma periódica, somente se seguir os critérios de acompanhamento definidos pelo sistema TIRADS (classificação de risco por imagem).
❌ Quando o USG de tireoide NÃO está indicado?
- ✔️ Não se recomenda fazer rotineiramente em check-ups de pessoas assintomáticas sem fatores de risco.
- ✔️ Não está indicado apenas por TSH levemente alterado, sem bócio ou sintomas.
- ✔️ Fazer o USG indiscriminadamente pode levar à detecção de nódulos pequenos e benignos, que nunca causariam problemas, mas acabam gerando:
- Ansiedade;
- Biópsias desnecessárias;
- Cirurgias evitáveis.
📊 E se o exame mostrar um nódulo?
Até 65% das pessoas acima de 50 anos têm nódulos tireoidianos ao USG — e a maioria é benigna e clinicamente irrelevante.
A necessidade de biópsia (PAAF) depende:
- Do tamanho do nódulo;
- Das características ultrassonográficas;
- Da classificação TIRADS (sistema que vai de TR1 a TR5).
📌 Nódulos menores que 1 cm com padrão benigno (TR1, TR2 ou TR3) geralmente não são biopsiados.
💬 Resumo prático: quando vale a pena?
✅ Sim, vale a pena fazer USG de tireoide se você:
- Tem nódulo palpável;
- Tem alterações hormonais com bócio ou suspeita clínica;
- Já teve radioterapia na infância ou história familiar de câncer de tireoide;
- Está em acompanhamento de um nódulo previamente avaliado.
❌ Não vale a pena fazer USG “por desencargo de consciência”, ou em qualquer alteração mínima no TSH sem justificativa clínica.
🩺 Conclusão
O ultrassom da tireoide é uma ferramenta valiosa quando bem indicada — mas seu uso indiscriminado pode gerar efeitos colaterais emocionais, físicos e financeiros. Avaliar a indicação correta é uma forma de prevenir excessos e proteger o paciente.
Se você tem dúvidas sobre sua tireoide ou quer saber se deve investigar algum sintoma, converse com seu médico de confiança antes de fazer exames por conta própria.
📌 Este conteúdo é informativo e não substitui uma consulta médica individualizada com seu médico de confiança.